Fragmento milenar: cruz cristã de 1.400 anos revela presença forte de fé em Abu Dhabi

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Arqueólogos nos Emirados Árabes Unidos desvendaram um achado que vai além de relíquia: uma cruz de estuque com cerca de 1.400 anos, encontrada em uma antiga construção monástica em Sir Bani Yas, ao largo de Abu Dhabi. O objeto, medindo aproximadamente 27 cm por 17 cm, apresenta um representação estilizada do Gólgota com base em estilo piramidal e elementos florais, unindo arte sacra e simbolismo regional do século VII a VIII. Este achado traz clareza definitiva sobre a fé cristã na região antes do advento do Islã.

Contexto histórico e significado religioso

O sítio já era conhecido desde 1992, quando arqueólogos da ADIAS (Abu Dhabi Islands Archaeological Survey) descobriram ali os vestígios de uma igreja e de um monastério cristão datados do século VII — associados à Igreja do Oriente (nestorianismo).

No entanto, faltava uma prova concreta de que os pequenos edifícios ao redor, provavelmente residências de monges, faziam parte do complexo monástico. A cruz encontrada este ano preenche essa lacuna com evidência visual inquestionável de devoção cristã.

A descoberta e sua relevância

Durante as escavações realizadas no primeiro semestre de 2025 — a primeira campanha intensiva em três décadas —, os pesquisadores localizaram a cruz em uma residência monástica, enterrada junto ao piso. Medindo cerca de 27 × 17 × 2 cm, o artefato apresenta detalhes impressionantes: o relevo inclui flores, pontos decorativos, e um motivo que remete ao Gólgota, evocando temas sagrados e de contemplação.

A arqueóloga Maria Gajewska, envolvida na pesquisa, declarou: “Nunca tivemos uma prova concreta de que aquelas casas eram habitadas por cristãos. Agora podemos confirmar que faziam parte de um assentamento religioso.”. Hager Hasan Al Menhali acrescentou que os trechos revelam “como viviam e se relacionavam aqueles monges com a região ao redor”.

Um testemunho de convivência religiosa

A descoberta reafirma que, nos séculos VII e VIII, cristãos e muçulmanos viviam lado a lado em Sir Bani Yas, em um período de transição histórica. A fé cristã não só persistia como florescia, mesmo com a ascensão do Islã no século seguinte .

O achado reforça a narrativa de tolerância e convivência religiosa com raízes profundas, e o diretor do Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi, Mohamed Khalifa Al Mubarak, considerou o fato como “um poderoso testemunho dos valores duradouros de coexistência e abertura cultural dos Emirados”.

O sítio arqueológico hoje e os próximos passos

O local onde se encontra o monastério cristão está aberto à visitação pública desde 2019 e conta com sinalização, cobertura protetora e exposições com vasos de vidro, selos e outros fragmentos históricos.

As escavações continuam e agora se concentram nas casas do complexo onde vivem os monges. O objetivo é compreender melhor a organização monástica, redes de comércio, prática espiritual e intercâmbios culturais na região durante o período bizantino e pré-islâmico.

Panorama mais amplo: cristianismo no Golfo

Esta não é a única evidência de cristianismo antigo no Golfo. Outras descobertas foram registradas no Bahrein (palácio episcopal do século IV), Qatar (cruzes de pedra), Kuwait, Irã e Arábia Saudita — evidenciando que a região era parte de uma teia cristã ampla, ligada à Igreja do Oriente.

Embora essas comunidades tenham declinado com o avanço do Islã, as ruínas permanece como legado de uma era de fé, arte e diversidade religiosa.

O resgate da cruz cristã de 1.400 anos em Abu Dhabi transcende a arqueologia: é um elo palpável com uma época de fé, arte sacra e coexistência inter-religiosa. A cruz não é apenas um símbolo de uma comunidade desaparecida, mas prova de que, mesmo antes do Islã, havia raízes cristãs firmes na Península Arábica — expressas em arte, arquitetura e vida cotidiana.

Este achado enriquece a compreensão histórica da mídia cristã e estimula reflexão sobre patrimônio, tolerância e identidade religiosa em regiões de múltiplas tradições.

Imagem de capa sugerida

Fotografia da cruz em close, destacando o relevo no estuque com a pirâmide e os motivos florais, com o fundo desfocado das ruínas do monastério em Sir Bani Yas.