Presidente de El Salvador veta linguagem neutra nas escolas e gera debate mundial

Uma medida inédita que confronta identidades, educação e fé — e reacende um embate entre valores tradicionais e ativismos modernos

O presidente salvadorenho Nayib Bukele sancionou uma ordem para proibir o uso do chamado “linguagem neutra” (ou inclusiva) em todos os centros educacionais públicos, com justificativa de proteger a infância de “influências ideológicas”. A ação já repercute internacionalmente e provoca reações em diversos setores — especialmente no âmbito cristão, onde muitos veem esse veto como parte de uma luta cultural pela preservação de princípios morais.

O que motivou a decisão presidencial?

Na prática, Bukele comunicou pelo X (antigo Twitter) que “a partir de hoje fica proibido o mal-chamado ‘linguagem inclusiva’ em todos os centros educacionais públicos do país”. 

A ordem veio acompanhada de um memorando da ministra da Educação, Karla Trigueros — capitã do Exército — instruindo diretores e administradores escolares a eliminarem expressões como “amigue, compañere, niñe, todos y todas, alumn@, jóvenxs, nosotrxs” e quaisquer outras formas que distorçam a gramática tradicional espanhola por motivos ideológicos. 

O argumento oficial é que essa medida busca “garantir o bom uso de nosso idioma” e *proteger a infância, juventude e adolescência de injerências que podem alterar seu desenvolvimento integral*.

Além disso, essa proibição inclui não somente a fala cotidiana nas salas de aula, mas também **materiais didáticos, livros, comunicações institucionais e documentos oficiais do Ministério da Educação**. 

Contexto político e ideológico

Esse movimento insiste na linha já adotada em anos anteriores pelo governo de Bukele. Em 2024, por exemplo, foi emitido o Memorando 07-2024 para retirar todo conteúdo associado à “ideologia de gênero” das escolas públicas. 

A nomeação de Karla Trigueros, militar com envolvimento direto nas decisões educativas, reforça a postura rígida da gestão no controle da educação pública. 

Esse tipo de legislação é também parte de um movimento mais amplo na América Latina, de ênfase em valores conservadores, crítica ao que se chama “ideologia globalista” e priorização de uma visão tradicional da família e da moralidade. 

Reações e controvérsias

A medida provocou fortes reações em diversos setores:

  • Setores conservadores e religiosos celebraram a proibição como um ato de proteção da infância e afirmação da linguagem “correcta” e tradicional.
  • Organizações de direitos humanos e ativistas LGBTIQ+ criticaram a medida como censura lingüística, violação da liberdade de expressão e retrocesso nos direitos de visibilidade. 
  • Acadêmicos e linguistas apontaram que o idioma evolui naturalmente com a sociedade, e que vetar expressões é tentar conter uma mudança cultural inevitável.
  • Pais, professores e estudantes manifestaram incerteza: para muitos, a ordem impõe desafios práticos no uso da língua e no material escolar já em circulação.

Esse embate cultural — entre tradição e modernidade, preservação e mudança — ganha intensidade quando se trata de educação, já que jovens e crianças são diretamente afetados.

O impacto para a comunidade cristã evangélica

Para o público evangélico, essa decisão toca em pontos sensíveis: **a defesa da liberdade de expressão, a preservação de valores morais, e o papel da educação na formação da próxima geração**.

Muitos cristãos podem enxergar esse veto como uma vitória simbólica na batalha cultural, onde linguagem e identidade são campo de disputa espiritual e moral. Por outro lado, é preciso caminhar com sabedoria: usar a retórica com amor, sem se fechar ao diálogo respeitoso com quem pensa diferente.

Essa medida pode servir também como estímulo para igrejas investirem em educação, reafirmando o ensino bíblico e capacitando jovens para discernimento cultural. Afinal, como diz 1 Pedro 3:15: “Estejam sempre preparados para responder a quem lhes pedir razão da esperança que há em vocês”.

Ao vetar a linguagem neutra nas escolas, El Salvador acende uma chama no debate cultural da era moderna: até que ponto a linguagem reflete poder, crença e identidade? Entre censura e liberdade, os cristãos são chamados a caminhar com sabedoria, confidando que as palavras têm peso, mas que é o **Espírito e a verdade** que trazem transformação duradoura.